quinta-feira, 23 de abril de 2009

A QUÍMICA NO MUNDO MODERNO: VILÃ OU MOCINHA?



* Por Wilson Tadeu Lopes da Silva


Das disciplinas de nível médio, quando são descritas as ciências naturais, dentre elas, a Física, a Biologia e a Química, temos nos dois primeiros casos, segundo a visão popular, as chamadas “ciências limpas”. A Física estuda os movimentos, energia, ondas, transformações, máquinas, etc. Assuntos que, se bem explorados pelo professor, mostrarão o quão interessante são estes fenômenos. Um exemplo interessante está relacionado à cor do céu, que é azul durante a maior parte do dia, devido a um fenômeno de espalhamento da luz, em comprimentos de onda próximos do azul, quando em contato com o ar da atmosfera, chamado de efeito Raman. Durante o amanhecer e o pôr-do-sol, o céu tende a tornar-se avermelhado porque este tipo de luz, quando encontra a atmosfera de forma mais oblíqua, tende a ser refletida para o espaço, enquanto a luz na região próxima do vermelho, penetra sem problemas. É a beleza poética da natureza explicada pela Física. A Biologia (estudo da vida), dispensa apresentações. Estudos como o funcionamento do corpo humano (e de outros animais), genética, cadeia alimentar e equilíbrio ambiental, são temas que sempre me fascinaram. Mais atualmente, devido ao fato de conviver com uma microbiologista, percebi como interessantes são as bactérias com suas impressionantes formas de multiplicação, adaptação e proteção.
Mas e a Química? Será que ela possui o mesmo carisma das outras ou devemos considerá-la como o “patinho feio” das ciências naturais?
Fazendo um breve relato em nossas memórias, da Química são mostradas diariamente coisas ruins: poluição, venenos, agrotóxicos, efeito estufa, doenças e morte. Encontramos, de tempos em tempos, rótulos como este: “verdura orgânica: sem química”. Ora, como químico, me revolto e também rio de tal frase. Em Química, descreve-se produto orgânico como aquele que possui carbono em sua estrutura (existem algumas substâncias que possuem carbono e não são orgânicas, como os carbonatos e os óxidos de carbono, mas não vou entrar nesta questão). Os plásticos são exemplos de substâncias orgânicas, portanto uma “verdura orgânica” poderia ser, sem erro conceitual, uma verdura de plástico... Pior ainda, a Química estuda a matéria, portanto algo “sem química” pode ser atribuído como “sem matéria”, ou seja, o vácuo. Comer uma verdura “sem química”, é o mesmo que comer algo somente “em pensamento”. É agradável pensar em algo saboroso e saudável mas, com certeza não trará benefícios nutricionais para ninguém! Certamente, este tipo de rótulo, é uma clara alusão de como a Química é mal vista pela população em geral. Infelizmente, criou-se na consciência coletiva um pré-conceito de que o “sujeito” Química é um mal que deve ser erradicado do mundo, custe o que custar.
Mas então, porque estudar Química, se ela é aparentemente tão ruim. A resposta, deste que lhes escreve, é que ela não é ruim como dizem. Aliás, sem a Química, não seriam criadas substâncias extremamente benéficas para a humanidade como, por exemplo, os medicamentos, os combustíveis, os agroquímicos, os plásticos, os “ships” de computador, etc., que podem ser considerados como símbolos do homem moderno. Some-se, à isto, que a vida existe somente devido às reações bioquímicas que ocorrem no interior dos organismos. Sem a “Química”, ou melhor, sem as substâncias químicas e suas reações, simplesmente não existiria a vida.
Você que me lê, pode então pensar:
- Este químico escreve como se a “Química” fosse um mar de rosas!
Não digo que não existe culpa. Ela existe sim, mas não é exatamente da “Química”. A poluição e suas conseqüências (efeito estufa, chuva ácida, doenças) existem devido ao uso descontrolado das substâncias químicas. Os “agrotóxicos”, (ou melhor, agroquímicos) são utilizados para controlar populações de pestes, animais e vegetais. Sem este controle, a produção de alimentos diminuiria drasticamente e a fome no mundo aumentaria. É verdade, que mesmo com o maior dos cuidados, ainda assim contaminamos o meio ambiente, pois estas substâncias criam problemas. Os agroquímicos matam as pestes mas muitas vezes, matam também animais que fazem o controle natural da praga. Ao contrário do que muitos pensam, mais e mais estudos “químicos” têm procurado soluções para estes problemas, através da produção de combustíveis mais limpos e substâncias que produzam um menor impacto à natureza. Nas estações de tratamento de água e de esgoto, substâncias químicas são utilizadas na descontaminação da água. O catalisador de automóveis reduz drasticamente a emissão de monóxido de carbono e óxidos de enxofre e nitrogênio, muito tóxicos ao homem, além do estudo uso de diversas formas de energia denominadas sustentáveis ou “limpas”.
Ao final, podemos dizer que a Química não é ruim! O mal está na forma de vida do Homem moderno o qual ainda não sabe exatamente o que fazer com os resíduos produzidos e em quantidades cada vez maiores. Estes resíduos causam poluição e todos os problemas associados à ela. A reciclagem do nosso lixo pode melhorar a renda de quem trabalha humanamente com este material, mas principalmente evita que este nosso mundo torne-se um enorme lixão no futuro. O lodo produzido dos esgotos, pode ser tratado e aplicado na agricultura, melhorando a fertilidade do solo e consequentemente a produção de alimentos. Estes são apenas alguns exemplos de que, se a Química é atualmente vista como vilã, certamente com a ajuda dela sairão soluções definitivas para uma grande parte dos problemas que convivemos atualmente.

A QUÍMICA NO MUNDO MODERNO: VILÃ OU MOCINHA?



* Por Wilson Tadeu Lopes da Silva


Das disciplinas de nível médio, quando são descritas as ciências naturais, dentre elas, a Física, a Biologia e a Química, temos nos dois primeiros casos, segundo a visão popular, as chamadas “ciências limpas”. A Física estuda os movimentos, energia, ondas, transformações, máquinas, etc. Assuntos que, se bem explorados pelo professor, mostrarão o quão interessante são estes fenômenos. Um exemplo interessante está relacionado à cor do céu, que é azul durante a maior parte do dia, devido a um fenômeno de espalhamento da luz, em comprimentos de onda próximos do azul, quando em contato com o ar da atmosfera, chamado de efeito Raman. Durante o amanhecer e o pôr-do-sol, o céu tende a tornar-se avermelhado porque este tipo de luz, quando encontra a atmosfera de forma mais oblíqua, tende a ser refletida para o espaço, enquanto a luz na região próxima do vermelho, penetra sem problemas. É a beleza poética da natureza explicada pela Física. A Biologia (estudo da vida), dispensa apresentações. Estudos como o funcionamento do corpo humano (e de outros animais), genética, cadeia alimentar e equilíbrio ambiental, são temas que sempre me fascinaram. Mais atualmente, devido ao fato de conviver com uma microbiologista, percebi como interessantes são as bactérias com suas impressionantes formas de multiplicação, adaptação e proteção.
Mas e a Química? Será que ela possui o mesmo carisma das outras ou devemos considerá-la como o “patinho feio” das ciências naturais?
Fazendo um breve relato em nossas memórias, da Química são mostradas diariamente coisas ruins: poluição, venenos, agrotóxicos, efeito estufa, doenças e morte. Encontramos, de tempos em tempos, rótulos como este: “verdura orgânica: sem química”. Ora, como químico, me revolto e também rio de tal frase. Em Química, descreve-se produto orgânico como aquele que possui carbono em sua estrutura (existem algumas substâncias que possuem carbono e não são orgânicas, como os carbonatos e os óxidos de carbono, mas não vou entrar nesta questão). Os plásticos são exemplos de substâncias orgânicas, portanto uma “verdura orgânica” poderia ser, sem erro conceitual, uma verdura de plástico... Pior ainda, a Química estuda a matéria, portanto algo “sem química” pode ser atribuído como “sem matéria”, ou seja, o vácuo. Comer uma verdura “sem química”, é o mesmo que comer algo somente “em pensamento”. É agradável pensar em algo saboroso e saudável mas, com certeza não trará benefícios nutricionais para ninguém! Certamente, este tipo de rótulo, é uma clara alusão de como a Química é mal vista pela população em geral. Infelizmente, criou-se na consciência coletiva um pré-conceito de que o “sujeito” Química é um mal que deve ser erradicado do mundo, custe o que custar.
Mas então, porque estudar Química, se ela é aparentemente tão ruim. A resposta, deste que lhes escreve, é que ela não é ruim como dizem. Aliás, sem a Química, não seriam criadas substâncias extremamente benéficas para a humanidade como, por exemplo, os medicamentos, os combustíveis, os agroquímicos, os plásticos, os “ships” de computador, etc., que podem ser considerados como símbolos do homem moderno. Some-se, à isto, que a vida existe somente devido às reações bioquímicas que ocorrem no interior dos organismos. Sem a “Química”, ou melhor, sem as substâncias químicas e suas reações, simplesmente não existiria a vida.
Você que me lê, pode então pensar:
- Este químico escreve como se a “Química” fosse um mar de rosas!
Não digo que não existe culpa. Ela existe sim, mas não é exatamente da “Química”. A poluição e suas conseqüências (efeito estufa, chuva ácida, doenças) existem devido ao uso descontrolado das substâncias químicas. Os “agrotóxicos”, (ou melhor, agroquímicos) são utilizados para controlar populações de pestes, animais e vegetais. Sem este controle, a produção de alimentos diminuiria drasticamente e a fome no mundo aumentaria. É verdade, que mesmo com o maior dos cuidados, ainda assim contaminamos o meio ambiente, pois estas substâncias criam problemas. Os agroquímicos matam as pestes mas muitas vezes, matam também animais que fazem o controle natural da praga. Ao contrário do que muitos pensam, mais e mais estudos “químicos” têm procurado soluções para estes problemas, através da produção de combustíveis mais limpos e substâncias que produzam um menor impacto à natureza. Nas estações de tratamento de água e de esgoto, substâncias químicas são utilizadas na descontaminação da água. O catalisador de automóveis reduz drasticamente a emissão de monóxido de carbono e óxidos de enxofre e nitrogênio, muito tóxicos ao homem, além do estudo uso de diversas formas de energia denominadas sustentáveis ou “limpas”.
Ao final, podemos dizer que a Química não é ruim! O mal está na forma de vida do Homem moderno o qual ainda não sabe exatamente o que fazer com os resíduos produzidos e em quantidades cada vez maiores. Estes resíduos causam poluição e todos os problemas associados à ela. A reciclagem do nosso lixo pode melhorar a renda de quem trabalha humanamente com este material, mas principalmente evita que este nosso mundo torne-se um enorme lixão no futuro. O lodo produzido dos esgotos, pode ser tratado e aplicado na agricultura, melhorando a fertilidade do solo e consequentemente a produção de alimentos. Estes são apenas alguns exemplos de que, se a Química é atualmente vista como vilã, certamente com a ajuda dela sairão soluções definitivas para uma grande parte dos problemas que convivemos atualmente.